Curso de Ciência da Informação atende demanda do setor de inovação de Florianópolis
Salas cheias de computadores, impressoras e monitores de última geração, onde o som de toques no teclado quebra o silêncio e o aroma de café expresso contagia o ar. Segundo dados da prefeitura de Florianópolis, esse tipo de ambiente é característico da capital catarinense, que vem se consolidando como polo de empresas de base tecnológica, contando com cerca de 600 empresas de software, hardware e serviços de tecnologia. Incentivada pela Lei Municipal de Inovação, a cidade criou, em 2018, a Rede Municipal de Centros de Inovação, iniciativa pioneira no país, na qual quatro centros de inovação passam a ter a chancela do poder público municipal, contando com recursos do Fundo Municipal de Inovação.
Para este cenário, A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) fornece profissionais para a área, através de cursos como Ciências da Computação, Engenharia da Computação, Sistemas de Informação e o mais recente, Ciência da Informação, fundado em 2015, a fim de atender uma demanda específica desses polos.
“O curso de Ciência de Informação nasceu de uma necessidade de atender ao entorno, que carece de profissionais da informação, demandando cerca de 6.000 empregos no setor em Florianópolis. A universidade já contava com cursos na área da Tecnologia da Informação (TI), mas ainda não tinha uma graduação que juntasse gestão e TI”, explica o coordenador do curso de Ciência da Informação da UFSC, William Vianna.
Profissão
O cientista da informação — como é conhecido o profissional de Ciência da Informação —, ajuda o tomador de decisão a selecionar a informação relevante para a empresa, no campo digital, para ser usada no contexto de inovação e tecnologia. “A informação é algo muito fluído. Então a Ciência da Informação analisa todas suas etapas, desde quando é criada até quando é disponibilizada, em diferentes perspectivas. Para isso, o profissional usa recursos de estatística, programação, comportamento social e psicologia”, revela William.
Ainda segundo o coordenador, as redes sociais são grandes aliadas para a profissão: “É possível encontrar padrões, por exemplo, em discursos de ódio em comentários de publicações de páginas, e assim, desenvolver uma política de prevenção. Também podemos identificar robôs e fake news (notícias falsas) nas redes.”
Currículo e estrutura
Classificado na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) como área de Ciência da Comunicação e Informação, o curso, composto por 6 semestres, tem uma base em conjunto com as graduações em Arquivologia e Biblioteconomia. Nos primeiros quatro semestres, os graduandos estudam temas como tratamento de documentação, gerenciamento de documentos, indexação de imagens e textos e depois, no último ano, ele pode optar por seguir em disciplinas de gestão ou tecnologia da informação. A área de gestão é destinada para quem deseja trabalhar com gerenciamento e integração de áreas diferentes, como programação e design. É um profissional para gerenciar áreas multidisciplinares, que tem na formação matérias como gerenciamento de projeto e liderança. Já quem escolhe a área de tecnologia, atua diretamente em linhas de código, através de uma formação com disciplinas de integração de sistemas, programação e aplicativos.
O departamento conta com 6 laboratórios. Atualmente, a coordenação está negociando com a UFSC a possibilidade de uma unidade física independente do Centro de Ciências da Educação (CED), onde o curso está integrado. As disciplinas podem ser cursadas no período matutino e noturno, com matérias optativas à tarde. O currículo também conta com duas disciplinas obrigatórias que atendem à comunidade, chamadas Interação Comunitária I e II — a primeira destinada a atender uma escola pública e a segunda uma comunidade de baixa renda. Também há o projeto de extensão cybercidadania, que usa uma plataforma digital para aproximar a universidade de uma escola estadual, através da disponibilização da literatura que cai no vestibular, além de materiais de apoio.
Mercado de trabalho em Florianópolis
O mercado de trabalho é amplo. Existem alunos que já trabalham em startups de moda e simulação de ambientes, usinas de energia, marketing de redes sociais, governança de T.I, gestão de projetos de T.I, Ministério Público Federal e repartições públicas e privadas. Mesmo com foco em tecnologias, as oportunidades vão além: “Onde tem informação, pessoas e máquinas, o profissional pode ter lugar”, lembra William.
Outra área de destaque que o profissional pode se inserir é a de Big Data, mercado que movimentou 1,35 bilhão de dólares no Brasil em 2017, segundo pesquisa da empresa Frost & Sullivan. O setor requer análise qualitativa da informação, através da interpretação e organização de números, uma das funções do cientista da informação.
Perspectiva dos alunos
Larissa Christine, 19 anos, é aluna da segunda fase e atualmente é estagiária da empresa de software Softplan. Ela revela como conheceu o curso, época em que cursava Economia: “Conheci a Ciência da Informação por acidente. Eu estava procurando alunos da UFSC para ajudar em um projeto para dispositivo móvel e encontrei a página do curso. Então troquei de graduação”.
A graduanda também aponta suas expectativas com a trajetória acadêmica : “Quero buscar conhecimentos tanto técnicos quanto práticos. Vejo o curso mais como formação do que profissão, pois é uma área multidisciplinar que abre leque para especialização com muitos enfoques diferentes. Cabe ao aluno estudar por fora e ir se especializando no âmbito que deseja trabalhar”.
Larissa também ressalta os desafios do curso, por conta de ser recente: “Devido a ser uma graduação nova, ainda há pontos a desenvolver em questão de disciplinas abordadas e como são abordadas, mas o pessoal é muito colaborativo. Os alunos conversam bastante entre si, divulgando eventos que podem ser úteis para a formação, além de vagas de emprego. E quem já está no mercado, vai divulgando a proposta do curso no local de trabalho”.
Lucas Bastos, 25 anos, está na última fase do curso e ingressou na primeira turma de Ciência de Informação da UFSC. “Na época eu queria algo que tivesse a ver com tecnologia, mas não queria fazer Sistemas da Informação. A proposta do curso parecia ser interessante, pois eu estava acompanhando que o setor de tecnologia estava crescendo em Florianópolis”, lembra Lucas.
Quanto ao caminho trilhado no currículo, ele busca o equilíbrio: “Acho bom entender as duas áreas de especialização (gestão e T.I). Eu prefiro a parte de gestão, mas já fiz algumas optativas de programação, então tento mesclar os dois lados.”
Prestes a encarar o mercado de trabalho como formado, ele o define como um campo ainda a ser desbravado: “Estamos aperfeiçoando competências que se encaixam no que eles querem. Tenho colegas se dando bem na área de marketing e sistemas de inovação. Quem geralmente vai atrás de uma área específica consegue. Como somos os primeiros do curso, estamos construindo a trilha.”
Alan Christian /estagiário de Jornalismo da Agecom/UFSC